quinta-feira, 24 de abril de 2008





Quando Perdemos Alguém que Amamos
(Aos meus amados sobrinhos que foram morar com Deus)

Palavra como eu queria explicar a morte a alguém.

Juro que gostaria de explicar a um grupo de gente jovem, porque morremos. mais ainda: porque se morre em circunstâncias que a gente não aceita. Um acidente, uma doença grave ou uma agonia demorada demais.
A primeira coisa que agente grita é:
- Não! Não ele!
A segunda é uma pergunta:
- Mas por que ele? por que daquele jeito?
E a saudade começa a doer doida, já na hora do enterro.
E um princípio de revolta começa a sufocar a gente, à medida que passa o tempo e ninguém responde ás nossas perguntas.
Se dependesse de nossa lógica nenhuma criança morreria, jovem algum morreria, nenhuma da pessoas que amamos morreria.
Só admitiriamos a morte para os velho e para quem cansou de viver e está indo numa boa, seja para onde for...
Mas não depende de nós.
E não depende de nós decidir sobre nossa morte, tanto quanto não dependeu decidir sobre nossa vida.
Ninguém de nós pede para nascer. E raramente alguém pede pede para morrer.
Não escolhemos como, onde e de quem nascer, e raramente escolhemos quando, como, onde e de que morrer. E em geral quem decide está desequilibrado.
Simplesmente estamos vivos porque alguém o quis, e morremos do jeito que morrermos porque alguém o determina, ou pelo menos consente.
Poderiamos ficar revoltados contra este alguém porque faz as coisas sem nos explicar por qu~e.
Poderiamos dizer umas boas a este Senhor Absoluto da Vida e da Morte por nos haver criado, colocado neste tempo e neste lugar e dado a nós os amigos que deu.
Poderiamos encher o coração de pessimismo e gritar:
- Por que você fez isso com ele?
- Por que você fez isso conosco?
Mas além do horizonte existem coisas que nossa mente jamis compreenderá, a não ser que cruze aquela fronteira.
A verdade sobre a vida, a morte e o amor é muito maior do que possamos imaginar.
Nunca entenderemos a vida, nem entenderemos o amor e nunca entenderemos a morte.
Nunca saberemos viver bem a vida, bem o amor e bem a morte. Somos limitados demais para assumir o mistério que é viver, amar e morrer. E por isso nos machucamos.
Quando perdi o monte de amigos que já perdi, doeu muito em mim.
A saudade deles, na verdade, nunca passou, e minhas perguntas nunca foram respondidas.
Mas aprendi a encarar com mais suavidade a ausência deles, quando aprendi um pouco mais de minha própria vida.
Eu também não sei quanto tempo vou viver. E não sei de que jeito vou morrer.
O que sei é que tenho um tempo, como o Rodrigo teve.
E não estou certo de que usarei este meu tempo de 30, ou talvez 80 anos, melhor do que o Rodrigo que viveu apenas 21. Não se mede uma vida pelo tempo que dura, mas pelo conteúdo que leva. E se o Rodrigo faz chorar a tantos e permanece vivo ainda em vocês, é porque soube ser amigo. Então soube viver.
Porque só sabe viver, aquele que sabe ser para os outros.
Só o Rodrigo saberá dizer se a vida valeu a pena e se a sua morte faz algum sentido, afinal, ele conhece os dois lados da existência e nós so conhecemos um. Ele não voltará para nos dizer, mas onde quer que esteja e pelo amor que plantou aqui, só posso crer que está em Deus , ele está presente.
Aos nossos olhos, que nunca mais o verão aqui, nosso amigo esta morto, mas, porque muito amou e epermanece muito amdo, nosso amigo está vivo.
Só morre definitivamente quem morre matando, ou quem morre no ódio. Quem deixa tantos amigos e amores não morre, mergulha no infinito.
E é nesse infinito que um dia nos encontraremos já sem lágrimas nem revoltas para dizer ao Rodrigo que finalmente a gente compreendeu.
Deus não nos tira os amigos.
Ele apenas os pede emprestado da gente, por alguns anos.
Depois a gente sse encontra. E aí, Deus nos dá toda uma eternidade para festejarmos juntos o amor que nunca dói nem deixa saudades.
Essa dor com Deus já é difícil. Sem Deus, é muito maior ainda.
Deixemos ao Rodrigo a última palavra. Só ele sabe o que é viver e o que é morrer...
Alguns de nós estão chorando, mas é provável que lá com Deus, onde está, ele esteja com aquele sorriso bonito e amigo, sentindo-se amado e dizendo:
- Não liga não Deus. São meus amigos. Um dia eles compreenderão!

E Deus não está nem um pouco zangado com a ira de vocês.
Quem chora tanto a perda de um amigo é porque ama de verdade. E pode demorar, mas quem ama de verdade, mais cedo ou mais tarde, acaba compreendendo a vida, a dor, o amor e a morte.
A diferença entre nós e o Rodrigo é que ele descobriu isso mais cedo que nós.
Oremos por ele.
Vocês que o conheceram tão bem, já sabem que ele está pensando em cada um de vocês.
O amor não acabou!
Está muito melhor agora: Porque tem gosto de lágrimas, mas tem sabor de infinito.
O Rodrigo era maior do que pensava ser.

E nós também. Estão aí essas lágrimas que não me deixam mentir...

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